As referências históricas no Brasil têm fascínio pelo ‘novo’. A conquista e colonização portuguesas começaram com o “Descobrimento”, que foi o cobrimento de culturas nativas diversas e antiquíssimas.
A “nova” Nação empinou pelas rédeas de um príncipe português, que regressou mais tarde para a Metrópole e lá é louvado: Pedro I do Brasil e IV de Portugal.
O “novo” regime republicano, proclamado por um general simpático à Monarquia, foi o das oligarquias. A República “Nova” de Vargas incorporou a aristocracia do café, de cujo capital veio, em boa parte, a fábrica.
A “democratização” do pós 2ª Guerra cassou os comunistas, cuja perseguição não era nada nova. O golpe civil-militar de 1964, de quase meio século, veio para “renovar” o Brasil, livrando-o “do populismo e da corrupção”. Mergulhou o país em “tenebrosas transações”.
A República “Nova” de Sarney marcou uma transição democrática um tanto intransitiva, tutelada pelos militares, que até hoje resistem à revelação da verdade inteira das prisões, torturas e mortes de opositores do regime.
Por tudo isso, soa como enganoso o discurso da “novidade” no encontro de Marina Silva com Eduardo Campos, institucionalizada pelo desmanche temporário dos nós da Rede Sustentabilidade no PSB, que nunca teve identidade maior com o discurso e a prática ambientalista.
Ambos proclamam a urgência de uma “nova forma de fazer política”, mas o central parece ser, na dissidência do lulopetismo, deslocar “o chavismo do PT do centro do poder “, como disse Marina, sem maiores cuidados conceituais. Aliás, parece que os cuidados são mais com o capital de votos, e por causa deles se faz a aproximação - e não por ideias e causas.
O PSB, na cruzada presidencial de seu líder maior, abre-se a figuras que estão tão próximas do ideário socialista quanto o diabo da cruz: Heráclito Fortes, Bonhausen, ruralistas, fundamentalistas. Ampliar é o que importa, e para tanto não podem existir portas fechadas. Será esta aliança sustentável? Como é sabido, ecologia é tema central nos discursos, à direita e à esquerda, mas periférico nas práticas de quem conquista espaços de poder.
Apesar do repúdio das ruas às formas rebaixadas de se fazer política no Brasil, fundadas no patrimonialismo, no eleitoralismo e no clientelismo, quase nada se move. O intenso troca-troca partidário dos últimos dias, sem razões de princípio e doutrina por parte dos que participaram da ‘dança das cadeiras’, confirmam algo grave: os partidos, os parlamentos e a própria política, no sentido lato, tornaram-se “instituições totais”, fins em si mesmas, elas próprias sua “classe”.
Na realidade, são castas com interesses específicos, corporativos, com movimentos de acomodação interna – daí as ‘novelhas’ agremiações indefinidas política e ideologicamente. Ou melhor, bem definidas: são partidos do sistema, que abrigam descontentes conjunturais. O PROS tende a ser pró-governo, o Solidariedade pretende ser solidário a uma oposição amena, e entre Aécio e Campos seu coração, que mal começou a palpitar, agora balança.
Cazuza, o compositor, em ‘Ideologia’, via ‘o futuro repetir o passado num museu de grandes novidades’. Assim continuamos: o programático cedendo vez ao pragmático, o sonhático com cara de errático.
Chico Alencar é professor de História e deputado federal (PSOL/RJ).
Nenhum comentário:
Postar um comentário