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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TER VERGONHA DE ESTUDAR? POR QUE ESTUDAR SE TORNOU COISA DE OTÁRIO?


Faço parte de uma geração de pessoas que iniciou a vida escolar na década de 1970 (ensino fundamental), passando na década de 1980 pelo ensino médio e no início da década de 1990 pelo nível superior. Com seis, sete anos de idade começávamos a ouvir a ladainha interminável e cotidiana de nossos pais a respeito do lugar decisivo dos estudos na vida, era uma ladainha às vezes insistentemente chata, às vezes dramática com falas maternas sobre perda de futuro para quem não estuda, enfim, havia uma verdadeira obsessão de nossos pais com a tarefa dos estudos. Minha mãe me obrigava com 10 anos de idade a ler dois livros por semana. Depois que ganhei gosto e autonomia, não precisei que ela mandasse mais, apesar de que ela continuava cobrando no mínimo três horas de estudos todo santo dia, além das leituras que eram consideradas "por fora". Na escola, quando fiz parte das minhas primeiras militâncias estudantis, a diretoria do grêmio só tinha "fera", só tinha caxias nos estudos ou então pessoas com paixão pela leitura, no mínimo. Éramos militantes do "quadro de honra". Os melhores filhos da pequena burguesia ou de uma classe média de pequenos funcionários públicos, como eu fui. Entre nós, havia também filhos da classe média alta, também muito estudiosos, e todo mundo muito animado com as possibilidades de construir uma sociedade democrática no Brasil, as divergências ideológicas, partidárias, políticas, não tiram de nós esse pano de fundo unificador. Estudar era o desafio da gente. Estudar muito, bem e com afinco. Era quase uma mística. O modelo da pessoa estudiosa era admirado coletivamente, era respeitado, cultuado até, havia certo elitismo nisso, como não poderia deixar de ser, mas havia também um forte sentimento de que para superar o Brasil do pistolão, nós teríamos que fazer o Brasil do mérito funcionar, com todas as fantasias coletivas que aí se interpõem, isso não deixava de alimentar uma forte corrente de moças e rapazes rebeldes, críticos, reflexivos, alternativos, esquerdistas e, fortemente, dedicados e dedicadas aos estudos. Não me envergonho dessa memória, apesar de não fazer uma apologia cega do que há de pretensioso nisso, mas, por favor, gostaríamos de voltar a não ter vergonha no nosso país de ensinar modelos de vida estudiosa para nossas crianças. Hoje, é como se a gente precisa pedir licença para falar em estudo. Temos que pisar em ovos, pois todas as acusações se voltam contra o valor da educação e do ensino como valores de base. Alguém sabe por quê? O que aconteceu que paramos de almejar ser uma nação que se destaca pela produção de conhecimento, pelo estudo, pela inteligência? Por que tantas pessoas hoje ficam ressentidas com os "intelectuais", tem raiva da "arrogância" de quem estuda? Sem querer afirmar verdades absolutas, compartilho essas inquietações com vocês.

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