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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OS SONHOS DO ESTADO SÃO OS NOSSOS PIORES PESADELOS


O que iria acontecer se, de repente, nós, pessoas e coletivos, que nos definimos como insurgentes, a partir de práticas de resistência, oposição e de luta por democracia real, simplesmente, respondendo ao "sonho" neoconservador de vários segmentos do poder, parássemos de protestar, de denunciar, de questionar, de fazer oposição? Qual seria o efeito disso para a vida social? Vocês conseguem imaginar uma greve geral invertida? Seria mais ou menos assim: ninguém diria uma palavra sequer de contraposição a nenhuma ordem do sistema de dominação, ninguém faria nenhum questionamento, nenhuma problematização, sempre que houvesse alguma dúvida, perguntaríamos ao chefe e ao chefe do chefe e assim por diante sobre como fazer e como encaminhar, anularíamos completamente o campo de autonomia das pessoas e dos coletivos, faríamos adesão total a qualquer ordem recebida da polícia, da justiça, dos governos, se nos dissessem para calar, calaríamos, se nos dissessem para andar, andaríamos, se nos dissessem para morrer, morreríamos, não questionaríamos nada, nenhuma ordem, faríamos a obediência total e irrestrita aos preceitos emanados das autoridades, qualquer instância que se apresentasse como instância de autoridade seria imediatamente reconhecida e geraria nossa obediência cega, independente de avaliações de conteúdos e méritos, avaliar seria um atributo exclusivo da instância de autoridade social, iríamos assim todos colaborar com a polícia denunciando toda e qualquer pessoa e coletivo que estivesse realizando algo que parecesse fugir ou colocar em xeque a manutenção da ordem social, não permitiríamos no cotidiano qualquer fala ou qualquer gesto que não correspondesse aos tutoriais divulgados amplamente pelas autoridades sociais sobre como se comportar, se vestir, caminhar e buscaríamos cumprir nos detalhes mais ínfimos a adesão total aos tutoriais disponibilizados pelo Estado e seus representantes sociais, faríamos um silêncio total em relação a qualquer tema de contestação, aboliríamos os vocabulários de contestação, apagaríamos da memória social qualquer elemento que veiculasse alguma lembrança em torno de formas de contestação da ordem, faríamos a hierarquização das posições sociais de acordo com os ditames, sem nenhum questionamento quanto aos critérios e à fonte da legitimidade destes critérios. Pergunto então a vocês: como seria viver assim? quais seriam os efeitos para a nossa existência se realizássemos com rigor absoluto o ideal de "paz total" da ordem social, excluindo qualquer possibilidade de desordem? Vocês conseguem imaginar que tipo de vida teríamos, se assim agíssemos?

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